DA SÉRIE: LIDERANÇA CONTEMPORÂNEA – Parte 1

Simbolo

Por Jacqueline Menezes

29/09/2022

As novas premissas e a comunicação ruidosa

AS NOVAS PREMISSAS EM LIDERANÇA

Habilidades relacionais do líder

As relações de um modo geral estão se revitalizando, seja no campo familiar, social ou profissional, estamos nos deparando com novos protocolos, uma visão renovada e formas mais humanizadas de perceber o outro, conviver e se conectar com pessoas.

Estas mudanças na forma de se relacionar sinalizam um novo “modo de ser” para líderes que pretendam atrair e manter talentos no seu time.

Um ambiente “demandante” em que pessoas passam a estar no centro das atenções, quando o assunto é resultados e que habilidades relacionais ganham força e status, na medida em que um grande volume de atividades profissionais são automatizadas e o estratégico e prioritário, ficam cada vez mais dependentes da capacidade humana.

Líderes são convidados a focar sua atenção em medir o essencial, alocando energia em gerir talentos, concentrando-se mais no entendimento da contribuição singular do seu time e na direção das grandes prioridades daquele negócio.

Frequentemente, identifico nos contextos empresariais em que atuo, líderes estratégicos e táticos com foco em atividades operacionais, atentos as falhas e erros e desatentos as necessidades humanas e aos ruídos da sua comunicação – falhas frequentes de julgamento que tecem efeitos na relação entre aqueles que convivem diariamente: líderes e liderados. 

Os vieses desta comunicação pouco clara, imprecisa, automática e inconsciente vai tecendo um enredo – as histórias que contamos para nós mesmos sobre o outro e como nos sentimos em determinadas circunstâncias – no foco extremo das atividades operacionais – ignoramos a relevância das percepções individuais e isso pouco contribui para que se estabeleça o vigor e a energia, advinda de relações saudáveis que constroem o elo de confiança e gera o desempenho superior.

Uma comunicação ruidosa confunde até os profissionais mais experientes, consome o talento de pessoas dispostas a colaborar e vai mimando a qualidade do clima organizacional.

Estamos diante de um crescente declínio das relações entre líderes e liderados que corrompe nossos propósitos mais elevados. Em minutos, arruínam projetos e sonhos de continuidade. Exercem força sobre nossos potenciais e se revelam mais efetivos e fecundos do que nossa capacidade de religar as pessoas, de motivá-las a ir adiante, reestabelecendo os vínculos. 

Assistimos atualmente, um número expressivo de profissionais talentosos desgastados por relações corrosivas no trabalho, afastamentos e solicitações de desligamentos que tem como causa primordial, sentimentos de inadequação, falta de confiança, julgamentos falhos (produzidos por humanos falíveis) – que se mostram como um dos mais severos problemas crônicos de liderança.

Quanto tempo do seu tempo diário, você usa para engajar seu time? 

Qual a relevância destes momentos na sua agenda de líder? 

Como sua liderança pode se beneficiar de rituais de gestão de pessoas, em que a pauta principal é colaborar conscientemente com o relacionamento positivo e fecundo entre líder e liderados?

A Comunicação Ruidosa

São muitas as interferências que podem afetar o entendimento das mensagens entre as pessoas e elas não são somente de caráter sonoro. Na maioria das vezes, nos deparamos com situações incognoscíveis – os ruídos semânticos com interpretações variáveis, envolvendo valores pessoais, significados distintos para uma mesma situação, a partir de pontos de vista contextuais.

Como líderes, podemos estar excessivamente ocupados para prestar atenção ao outro, tão pouco para olhar o que acontece a nossa volta e no processo de comunicação. Vamos erguendo barreiras que se solidificam – formas usuais de interpretar as palavras vão se consolidando e a percepção do líder, fica prejudicada, nebulosa e unilateral.

No livro “Ruído: Uma Falha no Julgamento Humano”, Daniel Kahneman, Olivier Sibony e Cass R. Sunstein tratam dos dois tipos de erros de julgamento humano que podem interferir negativamente em nossas decisões, o viés e o ruído.

Eles realizaram uma extensa pesquisa para explicar as causas dos vieses e ruídos nos julgamentos, e o porquê de nós seres humanos sermos tão suscetíveis a cometer esses erros.

A pesquisa nos aponta uma importante premissa para líderes: “Onde quer que haja julgamento, há ruído – e muito mais do que você pode imaginar.” Este alerta, refina nossa visão de que podemos nos equivocar, as pessoas tem percepções diferentes para as mesmas situações e resgata a necessidade da auto-observação e de ouvir mais para encontrar os ruídos e tornar nossa comunicação mais precisa e fluída.

Estamos sujeitos aos erros de interpretação, pois nossa mente é complexa e nada exata. Exercitar a capacidade de ouvir, de fazer perguntas de esclarecimentos, se permitir se colocar em outra posição perceptiva nos oferece amplitude e maior entendimento de como uma pequena mudança de lugar nos apoia a se comunicar melhor.

Os autores denominam essa abordagem de “higienização das decisões”, limpar os pensamentos, crenças e suposições, reduzindo erros que podem ser obtidos com diálogos potentes, permitindo-se compreender como o outro entendeu aquela situação e expressar-se mais claramente para elucidar equívocos inerentes a relação humana.

Fomos ensinados a cumprir tarefas, responder as entregas e pouco habilitados para considerar relevante a comunicação no exercício da liderança. Essa variabilidade de significados que nós humanos atribuímos as coisas e situações é sem dúvida um desafio para as conversas de maior equidade, entre líderes e liderados.

Líderes serão cada vez mais solicitados a compor diálogos de menor julgamentos e ou avaliações precipitadas, tendo em vista, a suscetibilidade dos vieses decorrentes dos ruídos da comunicação humana, tanto quanto possível.

Níveis maiores de discordâncias de pontos de vista ou avaliações imprecisas – que não favorecem a visão mais ampla das situações – serão cada vez mais fatores sensíveis para o êxito da liderança. Situações aparentemente irrelevantes, podem gerar uma enorme quantidade de ruídos e múltiplas interpretações.

Eles roubam a energia vital dos ambientes e consequentemente, vem afetando a capacidade dos envolvidos em prover soluções para os problemas cotidianos. Quando examinados mais cuidadosamente, nos deparamos com pequenos ruídos causadores dos problemas de comunicação que geram impacto nos níveis de engajamento das pessoas e nas metas e objetivos.

Como os podemos aprimorar nossas habilidades de julgamento, a fim de prevenir erros de avaliação ou mesmo de reduzir os ruídos? Como podemos implementar os chamados “protocolos de avaliações mediadoras” – formas mais inteligentes de gerir pessoas – que requerem “dar um passo para trás” e praticar a liderança que não sabe o que o outro está pensando ou sentindo, não conhece os fatos na sua totalidade e portanto, faz uma higiene na sua decisão ou julgamento: O que aconteceu? Como vamos resolver isso? Quais as implicações disso, em nossos resultados? Sobre esta situação, me esclareça melhor os fatos?

Compreender os problemas dos ruídos de comunicação nos contextos empresariais, será um trabalho evolutivo de liderança, das relações entre profissionais e pares, bem como um aprendizado constante que exigirá o refinamento diário das interpretações, um olhar intenso para as competências relacionais – subestimada por alguns e que vem se revelando como condição essencial ao pleno exercício da liderança na era contemporânea.

Esperamos que este artigo tenha contribuído com seu conhecimento e desenvolvimento.
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