DA SÉRIE: LIDERANÇA CONTEMPORÂNEA – Parte 3

Simbolo

Por Jacqueline Menezes

29/09/2022

O aprendizado na contemporaneidade: as contribuições dos 40/50+

“O desafio mais importante de nossos dias é o encerramento de uma época de continuidade – época em que cada passo fazia prever o passo seguinte – e o advento de uma era de descontinuidades, onde o imprevisível é o pão de cada dia para os homens, para as organizações e para a humanidade como sistema” – Peter Drucker.

Alguns dados são reveladores: a contratação de profissionais 40+ cresceu 217% em 2021, segundo uma matéria da Gupy. Isso vem demonstrando o avanço da diversidade nas empresas e a superação das generalizações inconscientes, estereótipos que perpetuam formas limitadas de perceber a realidade e o potencial das pessoas.

Reconhecer os vieses e as ideias preconcebidadas nas contratações também é um dos desafios da gestão de pessoas na contemporaneidade.

Estamos diante de novos referenciais e quando ampliamos nossa visão das contribuições singulares da pessoa humana, podemos ver com olhos mais expansivos, fortalecendo a diversidade geracional.

Segundo estudo do GPTW, realmente essa é a parcela que recebe menor atenção: apenas 3% da força de trabalho das 150 melhores empresas para trabalhar em 2021 têm 55 anos ou mais. Somando com a faixa acima de 45, temos apenas 14%. Na contramão destes dados no entanto, um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), aponta que a população brasileira envelhecerá de forma acelerada nos próximos anos, chegando a uma porcentagem de 40,3% em 90 anos. 

O que esse cenário nos aponta, então? Como as múltiplas gerações fortalecem as equipes, e o que temos que aprender sobre diversidade e inclusão? Quais seriam os benefícios empresariais de olhar além do que fizemos até aqui? Que aprendizados comportamentais e expertises podem ser aproveitadas no atual mercado de trabalho marcado por desafios contínuos?

O cenário mundial já nos aponta estudos que merecem atenção: “Ao analisar o engajamento das pessoas com seus trabalhos, o estudo de 2021 da “Global Employee Engagement Benchmark” revela um resultado compatível com o que tem sido visto no cenário brasileiro. Realizado pelo Great Place to Work nos Estados Unidos em 2012, a pesquisa mostra que apenas cerca de metade dos colaboradores ao redor do mundo estão tendo experiências positivas em seus ambientes de trabalho. E estes dados, independem de faixa etária.

A criação de ambientes emocionalmente saudáveis já está no topo da lista dos desafios dos líderes em todo o mundo. O tema da segurança psicológica no trabalho cresce e provoca intensas mudanças na forma de gerir pessoas.

Liderar pessoas de forma eficaz passa a ser objetivo estratégico, na medida em que os negócios estão cada vez mais dependentes da capacidade humana de criar soluções criativas para os problemas e as novas demandas.

Competir passa a ter novos significados e sem equipes vibrantes e motivadas não haverá futuro para os negócios. Integrar a multiplicidade geracional significa considerar nas decisões de atrair e manter talentos as forças complementares derivadas de profissionais mais sêniores, mesclar comportamentos que juntos se fundem e geram novas oportunidades e aprendizados mais robustos e necessários num tempo de incertezas e mudanças velozes e permanentes.

Entender os principais motivos que promovem esta “experiência negativa” das pessoas no trabalho, passa a ser a nova provocação dos profissionais de gestão de pessoas. As principais queixas se concentram nos relacionamentos com a liderança direta, falta de conexões positivas e ausência de propósito.

Voltamos a colocar as habilidades do líder no centro das atenções da gestão de pessoas. E atuando com desenvolvimento de líderes nos últimos 10 anos, percebo claramente a necessidade deste profissional de abrir espaço na sua agenda, para refinar suas habilidades relacionais – sua capacidade de influenciar e liderar, sua resiliência para “dar um passo para trás” – para perceber melhor o que acontece no seu entorno, sobretudo, como sua forma de liderar afeta as pessoas do seu ambiente.

Culturas que acolham profissionais 40 e 50+, vão florescer, pois o mundo contemporâneo vai exigir cada vez mais adaptabilidade: saber se adaptar sem deixar de focar no mais importante – pessoas e resultados. A caminhada destes profissionais, na sua grande de maioria, permite mais elasticidade mental. E temos disponíveis formas de avaliar o quão cada profissional sênior está aderente aos desafios e a cultura organizacional.

Incluir não significa acolher sem avaliar. Mas não olhar para este público representa sim, uma miopia estrutural que nega a experiência, que rejeita sem considerar a singularidade de cada caminhada, contribuições que negamos por falta de tempo ou crenças limitantes, repletas de generalizações infundadas.

Líderes também se encontram em limites emocionais muito exigentes – o que vai requerer cuidar de si mesmo para conseguir liderar pessoas, cujas exigências crescem exponencialmente – o ser humano contemporâneo: “o sujeito de emoções – autor, construtor de relações e de vínculos, e de transformações –  estando no centro de um mundo incerto, instável, fragmentado e descontínuo”.

Vamos lidar de forma constante com a ‘insatisfação humana’ – e isso não estará vinculado a uma geração ou outra – está intimamente ligada às necessidades humanas num mundo em plena transformação. 

Estamos assistindo os elevados pedidos de demissão e os crescentes desejos de redução das jornadas de trabalho e expectativas maiores em relação as interações no meio profissional.

Resistir a esse conjunto de novos elementos seria como ignorar o cenário a nossa frente. Vamos precisar aprender mais sobre interação humana, comunicação entre pessoas e a olhar muito além dos enquadramentos usuais.

Sair da perspectiva normal que nos trouxe até aqui e nos dar permissão de “enxergar” novos ângulos e horizontes para compreender como liderar e mover pessoas dentro de novos cenários.

Nunca fomos tão estimulados a rever padrões. Cabe agora saber, se estaremos dispostos ao alongamento mental, um exercício diário rumo a uma nova percepção das relações profissionais mais humanas e potentes.

Esperamos que este artigo tenha contribuído com seu conhecimento e desenvolvimento.
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